Titular da pasta de Planejamento e Gestão, Márcio
Stefanni explicou, após reunião com o governador Paulo Câmara e outros
secretários, que a interrupção do repasse de recursos federais prejudicou
serviços.
Por
Marina Meireles, G1 PE
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Secretários estaduais estiveram reunidos com o governador Paulo Câmara para discutir estratégias de ajuda à população prejudicada pela enchente na Mata Sul (Foto: Marina Meireles/G1) |
O secretário de
Planejamento e Gestão de Pernambuco, Márcio Stefanni, reconheceu que faltaram
verbas para finalizar as obras de quatro barragens que
ajudariam a conter as enchentes em rios do estado, prometidas desde 2010.
De acordo com ele, a paralisação dos repasses pelo governo federal prejudicou o
andamento das construções. A declaração foi feita, na noite desta segunda-feira
(29), após uma reunião de integrantes do primeiro escalão da administração
estadual com o governador Paulo Câmara (PSB). "Não houve dinheiro",
declarou o secretário.
O encontro,
realizado no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, no
Centro do Recife, teve como objetivo discutir as estratégias para atender a
população prejudicada pelas enchentes em Pernambuco. Na reunião, Stefanni
enalteceu os esforços emergenciais para salvar as vidas de quem mora nas
cidades atingidas pela água.
“A maior das
barragens [Serro Azul] foi concluída, mas outras quatro não foram terminadas. O
estado de Pernambuco já investiu R$ 79 milhões [nessas obras], mas não foram
concluídas, porque diante da crise nacional, houve uma paralisação de
repasses”, justifica Stefanni. O secretário se refere às Barragens de Gatos, em
Lagoa dos Gatos, Igarapeba, em São Benedito do Sul, Barra de Guabiraba, no
município de mesmo nome, e Panelas II, na cidade de Cupira.
Sem verba
federal, o secretário explicou, ainda, que o estado de Pernambuco optou por
injetar recursos próprios para finalizar a maior das barragens. “Os recursos
iniciais para a barragem de Serro Azul eram de R$ 134 milhões, mas até agora,
foram investidos R$ 300 milhões. Foi feito o maior investimento na barragem com
maior acúmulo de água para proteger mais vidas”, enfatiza.
De acordo com o
presidente da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac-PE), Marcelo Asfora,
a barragem foi capaz de absorver um
terço do impacto das águas que inundaram os municípios da
Mata Sul.
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Chuvas em Pernambuco (Foto: Reprodução/TV Globo) |
Versão
O Ministério da
Integração Nacional, no entanto, contestou a versão e afirmou, por meio de
nota, que houve a liberação de R$ 200 milhões para Serro Azul, até 2015,
montante que representa 100% dos recursos da União destinados à obra. Segundo o
órgão, houve a solicitação de recursos adicionais de R$ 63 milhões para a
barragem de Igarapeba, solicitação que está em análise pelo Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, desde setembro de 2016.
No caso de
Barra de Guabiraba, o Ministério alegou que a iniciativa não foi priorizada
pelo governo do estado. Afirmou que aguarda o levantamento das obras restantes
e informações sobre a nova licitação.
Ainda de acordo
com o órgão, o governo de Pernambuco também identificou falhas e exigências de
readequações nos projetos das barragens de Gatos e Panelas II, o que gerou a
devolução dos recursos. Diante disso, o Ministério afirma aguardar um novo
escopo dos projetos e dos custos.
Contestação
Stefanni, por
outro lado, contesta o que foi informado pelo Ministério. “Não faltou
planejamento. O que houve foi a parada de obras, se nós lembrarmos em 2011,
quando parou a Barragem de Gatos, havia um bom momento da construção civil.
Isso foi dito ao presidente da república que é necessária a atualização dos
projetos. Aqui não há uma troca de culpas, há a necessidade do povo de Pernambuco,
que está debaixo d’água. O que é necessário é trabalharmos em prol do povo”,
afirma.
Sem determinar
prazos, o secretário de Planejamento e Gestão aguarda o repasse financeiro do
governo federal para dar andamento às construções paralisadas. “O financiamento
de R$ 600 milhões foi o que foi prometido na reunião com o presidente. Nós
estamos atuando para melhorar a vida das pessoas”, pontua Stefanni, garantindo,
ainda, que Paulo Câmara viaja a Brasília na terça (30) para apresentar a
urgência do repasse a Pernambuco aos ministérios.
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Chuvas provocam mortes e estragos em PE (Foto: Editoria de Arte/G1) |
Medidas emergenciais
Diante dos 15
municípios pernambucanos em estado de calamidade pública, o governo de
Pernambuco designou um secretário estadual para cada uma das cidades
prejudicadas pela enchente. “Primeiro, pensamos em salvar vidas. Depois,
pensamos na ajuda humanitária a essas pessoas. Depois, estamos planejando a
limpeza das cidades, para evitar a proliferação de doenças”, explica Stefanni.
De acordo com o
secretário de Planejamento e Gestão, as ações de auxílio englobam o envio de
donativos e a retirada de pessoas das áreas de risco. “Foram mil cestas básicas
que seguiram nesta segunda (29) para a Zona da Mata Sul do estado. Um dos
helicópteros solicitados ao governo federal para a retirada de pessoas de áreas
de risco já chegou ao Recife hoje e um outro deve chegar a Pernambuco amanhã
[terça]”, afirma.
Ainda de acordo
com o secretário, a Defesa Civil de Pernambuco, também presente na reunião,
informou que há um alerta de chuva intensa para a quinta (1º). “Vamos continuar
monitorando essas áreas, retirando as pessoas das áreas de risco e atuar na
prevenção de saques”, pontua.
Prejuízos
A coordenadoria
de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe) informou, no início da noite desta
segunda-feira (29), que subiu o número de pessoas afetadas pelas enchentes que
atingiram 23 cidades no interior. São 44.801 moradores:
42.145 desalojados, que deixaram as residências, e 2.656 desabrigados, que
perderam as casas. Até esta segunda de manhã, o número de pessoas afetadas
pelas enchentes era de cerca de 30 mil.
Calamidade
De acordo com o
governo de Pernambuco, 15 cidades estão
incluídas no decreto de calamidade pública, publicado no domingo
(28). A população dessas áreas chega a 787.245 mil habitantes. Os municípios
são: Rio Formoso, Ribeirão, Água Preta, Palmares, Catende, Maraial, Belém de
Maria, Barreiros, Amaraji, Barra de Guabiraba, São Benedito do Sul, Cortês,
Jaqueira, Gameleira e Caruaru. Segundo a Codecipe, a situação mais grave é de
Rio Formoso e Belém de Maria.
Perdas
As chuvas
também ocasionaram duas mortes em Lagoa dos
Gatos, e duas pessoas estão desaparecidas em Caruaru. Na
cidade, no Agreste, uma criança morreu ao
cair em um açude. De acordo com o governador, há 16 sistemas de
abastamento de água paralisados, atingindo 2,2 milhões de pernambucanos.
No domingo, em
reunião com o governador Paulo Câmara (PSB), no Palácio do Campo das Princesas,
o presidente da República, Michel Temer, autorizou o envio de ajuda humanitária
para atender as cidades pernambucanas em estado de calamidade devido às fortes
chuvas que caíram nos últimos dias, na Zona da Mata Sul e no Agreste do estado.
E se comprometeu com a liberação de uma linha de crédito de R$ 600 milhões,
junto ao BNDES, para obras no estado.
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Rio Formoso, uma das cidades atingidas pelas chuvas, no Litoral Sul de Pernambuco (Foto: Bruno Grubertt/TV Globo) |
Solidariedade
Para ajudar as
famílias que perderam praticamente tudo nas enchentes, diversas instituições e
entidades realizam arrecadação de alimentos não perecíveis e objetos de higiene
pessoal. Há pontos de coleta no Recife, em Olinda e nos 15
câmpus do do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE).
Entenda as fortes chuvas
No Nordeste, as
chuvas ocorrem por causa de um fluxo de vento que vem do
oceano carregado de ar úmido, formando nuvens carregadas na
costa e na Zona da Mata. De acordo com o meteorologista Celso Oliveira, da
Somar Meteorologia, trata-se de um sistema chamado onda de leste, comum nesta
região no outono e inverno.
Água acumulada
As chuvas que
caem no Grande Recife desde a quinta-feira (25), são responsáveis pelo acúmulo
de água nas barragens que garantem o abastecimento na capital pernambucana e na
Região Metropolitana. Dos quatro reservatórios, Pirapama, no Cabo de
Santo Agostinho, foi o que mais registrou aumento. Em cinco
dias, o nível subiu 27,87%.
De acordo com a
Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), na quinta-feira (25) o nível do
reservatório estava em 46,06%. No domingo (29), Pirapama registrava 73,93% da
capacidade.
Saúde
Diante das
enchentes provocadas pelas fortes chuvas que caíram no estado nas últimas
horas, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) alerta a população
pernambucana para o consumo de água. A preocupação das
autoridades é com a possível contaminação e a possibilidade de transmissão das
hepatites A e E, febre tifoide e cólera, além de diarreias agudas. Por isso, o
governo orienta os moradores das áreas atingidas sobre cuidados que devem ser
tomados.
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